Com Matheus Luiz Costa, Engenheiro Agrônomo e DTM da Viter


No campo, algumas frases se repetem com tanta frequência que parecem verdade absoluta. Uma delas é: “Calcário é tudo igual.” Para desmistificar essa ideia e aprofundar o conhecimento sobre esse insumo essencial para a agricultura brasileira, convidamos Matheus Luiz Costa, Engenheiro Agrônomo, especialista em nutrição de plantas e solos, cana-de-açúcar e DTM (Desenvolvimento Técnico de Mercado) da Viter, para um bate-papo técnico e direto sobre as diferenças que realmente importam quando o assunto é calagem.

Viter: Matheus, para começar… por que você afirma que “calcário não é tudo igual”?

Matheus Luiz Costa:
Porque simplesmente não é! O que muitos produtores não percebem é que existem diferenças enormes entre os calcários disponíveis no mercado — e isso impacta diretamente nos resultados da lavoura. O tipo de moagem, a composição química e, principalmente, o PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) são fatores que determinam a eficiência do calcário no solo. Ignorar esses parâmetros é como jogar dinheiro fora”.

Viter: O PRNT costuma aparecer nas fichas técnicas e muitas vezes é o único critério de comparação. Ele é mesmo suficiente?

Matheus:
O PRNT é, sim, um dos principais parâmetros — mas não pode ser analisado isoladamente. Ele é resultado da multiplicação entre o Poder Neutralizante (PN) e a Reatividade (RE). Então, dois calcários com o mesmo PRNT podem ter comportamentos muito diferentes no solo, dependendo do tamanho das partículas ou da presença de magnésio, por exemplo. Saber o PRNT é importante, mas entender o que está por trás dele é o verdadeiro diferencial.

Viter: E como a moagem interfere na eficiência do calcário?

Matheus:
Totalmente. A moagem define o tamanho das partículas, que por sua vez impacta diretamente na velocidade de reação no solo. Moinhos de bolas, por exemplo, produzem partículas menores e homogêneas, aumentando a superfície de contato com o solo e acelerando a reação. Já os moinhos de martelo geram partículas menos uniformes. Essa diferença afeta não só a velocidade da correção da acidez.

Viter: Muitos produtores ainda escolhem o calcário pelo menor preço por tonelada. Como analisar o custo-benefício de forma mais estratégica?

Matheus:
Isso acontece sempre! O ideal é calcular o custo por tonelada efetiva, considerando o PRNT. Um produto com PRNT mais alto pode parecer mais caro inicialmente, mas exige menor dose por hectare. Isso significa menos frete, menos operação e, no fim, menor custo total. A matemática é simples: preço por tonelada vezes 100, dividido pelo PRNT. Essa conta mostra o custo real do que realmente corrige o solo.

Viter: E sobre a escolha entre calcário calcítico e dolomítico, o que o produtor deve observar?

Matheus:
Essa escolha depende da relação Ca/Mg do solo. O calcítico é rico em cálcio, ideal para áreas com bom nível de magnésio. Já o dolomítico é mais equilibrado em cálcio e magnésio, sendo essencial quando há deficiência de Mg no solo ou em culturas que demandam mais desse nutriente. Uma boa análise de solo é indispensável para tomar essa decisão com segurança.

Viter: Para quem ainda tem dúvidas, qual recado você deixaria?

Matheus:
A correção do solo é um investimento essencial — não é o lugar onde se deve economizar às cegas. Calcário de qualidade, bem escolhido e corretamente aplicado, aumenta a eficiência dos fertilizantes, promove maior desenvolvimento radicular e melhora a produtividade. Conhecer as diferenças entre os tipos de calcário e calcular o custo efetivo faz toda a diferença. No fim das contas, o que parece igual pode ser o que mais distancia uma safra “meia boca” de uma colheita excelente.

Viter: Matheus, obrigada por compartilhar seu conhecimento com a gente. Que essa entrevista ajude mais produtores a fazerem escolhas técnicas, conscientes e rentáveis.

Matheus:
Eu que agradeço o convite! É sempre um prazer levar informação de qualidade ao campo. Conte comigo!